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Acaso na noite de Natal

Subimos o Monte das Oliveiras.

Era para ser mais uma comemoração de Natal no idioma alemão, o qual todos conseguíamos entender, contudo, a celebração em hebraico nos pegou de surpresa e o jeito foi deixar o local.


Mas o que fazer? Para onde ir?

Alina, minha filha do meio, teve uma ideia: Por que não vamos para Belém? Belém? Mas quem nos levaria lá aquela hora? Resolvemos perguntar a um taxista se poderia nos deixar na Praça da Basílica, a que ele se negou veementemente. Disse que nos deixaria no check point. Resolvemos ir. Não sabíamos o que nos aguardava.


Check point vazio; só nós 4 a caminho do Natal em Belém. Paredes sujas Pátio escuro. Em uma mini-porta, escrito em simples manuscrito, sem glamor algum: Bethlehem! Mas seria lá mesmo? Não havíamos planejado, nem nos informado.

Um pouco assustados prosseguimos nossa caminhada até nos depararmos, no fim do corredor, com Loui Abu-Mahameed. Nosso, a partir deste momento, guia nesta aventura.


Loui queria nos mostrar onde a estrela apareceu para os reis magos, mas minha filha Maíra, irritada porque achava que estava sendo ludibriada (no que acho que tinha razão), fechou a cara e não respondia a uma única pergunta do motorista. A Alina, mais amena, passou a, gentilmente, contudo com muita cautela, lhe falar sobre nossos planos. Estávamos famintos e ele nos levou para jantar.


Um local que nada condizia com nossa expectativa de Natal, mas pouco importava a música palestina cobrindo o som de nossas vozes, colocando por terra tudo o que meus filhos conheciam de Natal tranquilo e silencioso.


Neste momento, o que contava era que estávamos saciando nossa fome! Loui entendeu que não podia sequer pensar em sair fora de nosso esquema porque seria “perfurado” pelo olhar de Maíra, minha filha mais velha. Assim sendo, nos levou para a praça onde encontramos soldados armados, uma multidão interessada em ver a gigantesca árvore e o que o momento tinha para oferecer.


Caio, meu filho, aproveitou a euforia e se deixou fotografar com os guardas, como se aquilo fosse seu presente de Natal. Pensando bem, em sua ânsia de aventura, até penso que tenha sido.

Eu estava confusa. Árvore de Natal gigantesca; soldados armados; uma confusão de vozes e idiomas. Que comemoração diferente era aquela? Louis nos levou até a lateral da igreja, onde ficava a tenda de seu tio. Queria, como todo comerciante do local, nos vender tudo, se possível a tenda toda. Mas nós queríamos mesmo visitar a igreja e ver até onde conseguiríamos avançar. Conversou com os guardas da primeira barreira e os convenceu a nos deixar passar.


Fomos até a segunda, pensando que seria o suficiente.

Lá chegando, o guarda perguntou pelo nosso comprovante de entrada, o que, naturalmente não o tínhamos, visto que nem imaginávamos que estaríamos em Belém, na noite de Natal.

Mesmo assim tentamos nossa sorte com o próximo guarda, em uma outra entrada. Ele falava com a Maíra em árabe e nos custou explicar que não entendíamos o que ele dizia. Mencionamos o Brasil e foi neste exato momento que mais uma barreira, como que por mágica, se abriu para nós.


Pudemos adentrar a ala principal da igreja. Já podíamos tocar as paredes e ver os outros guardas mais de perto. Isto nos alegrava muito, mas nossa curiosidade era muita; tentamos a entrada na igreja, sem termos comprovantes. É claro que não nos deixaram entrar, mesmo assim estávamos felizes com nossa aventura e resolvemos voltar para a multidão. Mas não era isto que estava preparado para minha família naquela noite de 24/12/2016.


Alina, minha filha do meio, saiu de perto de nós e caminhou ao longo das paredes da igreja. De repente eu a vejo abaixada com metade do corpo dentro de uma espécie de “acesso restrito”. Olhei e ela nos acenou: Venham, podemos entrar por aqui!

Ficamos pasmos e, mais uma vez, entendi que nosso convite já estava preparado para estarmos naquele lugar fantástico: naquele dia, naquela hora.

Entramos e nos deparamos com um algo inexplicável – estávamos DENTRO da igreja!


Caminhamos, descemos e, sem sabermos o que nos esperava, nos deparamos com uma vigília, bem ali, onde se crê que Cristo tenha nascido.

Um momento especial e uma sensação única; um Natal inesperado, com muito brilho; uma memória; uma família com um só propósito e um amor que transborda.


Paz, Luz, Fé e perseverança é o que lhes desejamos neste Natal.


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